Núcleo Piratininga: 20 anos dedicados a comunicação dos trabalhadores

Estudantes, jornalistas e dirigentes sindicais reuniram-se entre os dias 5 e 8 de novembro no Rio de Janeiro para o 20º Curso do NPC. Com foco no tema “Comunicação dos Trabalhadores e Hegemonia”, o curso foi um importante momento de reflexão e avanço para a comunicação popular e sindical do país. Ao longo de 20 anos de sua existência, o Curso Anual do NPC trabalha o fortalecimento de uma mídia voltada para a realidade e os interesses dos trabalhadores.
A mesa de abertura, “Comunicação, cultura e disputa de hegemonia”, abordou a importância da cultura como mecanismo de construção da consciência de classe. Participaram da mesa: Ademar Bogo, escritor e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); Adelaide Gonçalves, professora de história da Universidade Federal do Ceará (UFCE); Anápuáka Muniz Tupinambá Hã-Hã-Hãe, fundador da Rede Cultura Digital Indígena; Adenilde Petrina, comunicadora popular e militante do Movimento Negro. 
Anápuáka Muniz Tupinambá Hã-Hã-Hãe, destacou a importância das ferramentas de comunicação, principalmente a internet, para a difusão de informação, mobilização e sobrevivência dos povos indígenas hoje. "De 1982 até hoje, perdemos 30 ou 40 lideranças indígenas indiretamente. Posso dizer que morre um indígena em um canto desse país, todos os dias. Todos os planos de destruir os povos indígenas são praticados todos os dias. Como viver num país em que a morte de indígenas é institucionalizada?”, questionou.
Adenilde Petrina, comunicadora popular e militante do Movimento Negro, falou da importância do pensamento utópico para a construção de uma sociedade melhor. Ela esteve acompanhada do grupo Coletivo Vozes da Rua e Capoeiristas de Juiz de Fora, que encerrou a primeira mesa do curso com uma apresentação de improvisos musicais.
Marx, um jornalista
Durante a mesa “A construção social das ideias” o professor Rodrigo Castelo, da Escola de Serviço Social da Unirio, destacou a vida do pensador alemão Karl Marx como profissional de comunicação. Ele apresentou um lado menos poético do pensador que, antes do mito, foi um trabalhador assalariado, que precisava escrever para pagar contas e poder se casar. Em entrevista ao NPC, Castelo ressaltou que, apesar de ser um trabalho assalariado, o jornalismo de Karl Marx foi militante, a serviço da classe trabalhadora. E defendeu que jornalistas também se enxerguem como produtores de conhecimento, e não apenas difusores.

Mídia e ditadura
Durante o segundo dia do curso, a mesa "Cumplicidade da imprensa e dos empresários com a ditadura” teve a participação do professor da UFF Aloysio Castelo de Carvalho, da autora do livro Novos Cães de Guarda, Beatriz Kushnir, e do autor do livro Estranhas Catedrais - As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964-1998, Rodrigo Henrique Pedreira Campos. Beatriz Kushnir falou sobre a cumplicidade dos empresários e dos próprios jornalistas que atuavam como censores com a ditadura. Ela destacou a dificuldade que ainda enfrentamos para incorporar a história do golpe militar na sociedade brasileira.
A mediadora da mesa, Claudia Costa, assessora de comunicação da Conlutas, lembrou o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Comissão Nacional da Verdade e destacou a necessidade de se dar continuidade nas investigações, mesmo após o término da comissão. Ela afirmou que o trabalho da Comissão resultou na construção de um arquivo imenso sobre a ditadura e que, agora, é necessário se realizar um profundo processo de análise deste arquivo.

Democratização
Durante o terceiro dia do curso, a mesa "Impasses na Democratização da Comunicação no Brasil” debateu a democratização e regulamentação da mídia no país. Participaram da mesa a jornalista do Intervozes Bia Barbosa, o professor da UFRJ Marcos Dantas e o cientista político Venício Lima. Para Venício, a democratização das comunicações depende do cumprimento de 4 eixos: regulação da Constituição de 1988, existente há 25 ano; funcionamento dos Conselhos Estaduais de Comunicação, que já existem; distribuição de verbas públicas de publicidade para veículos que dão voz àqueles que não teriam; e o apoio a mídia pública no campo político.
A jornalista Bia Barbosa apresentou a campanha "Fora Coronéis da Mídia”, realizada nos últimos meses para denunciar e alertar à população sobre políticos que são donos de canais de TVs e rádios no Brasil. O material da campanha está disponível em www.foracoroneisdamidia.com.br 

Encerramento
A mesa de encerramento, "Desafios Imediatos e Históricos da Comunicação dos trabalhadores” com Leonardo Severo - Jornalista da CUT/Brasil, Beto Almeida Jornalista Telesur, Renato Rovai, Jornalista da Revista Forúm e Vito Gianotti, escritor e Coordenador do NPC, fez uma avaliação geral dos desafios e dos caminhos para a consolidação de uma comunicação alternativa. 
O coordenador do NPC, Vito Gianotti, foi enfático ao afirmar que "a disputa de hegemonia é feita pela mídia. A questão é quando tempo nós não vamos disputá-la. A maioria dos jornais sindicais tem uma pauta ruim, é feio e não interessa aos trabalhadores. É preciso reformular, é preciso aprender. A disputa de ideias quem faz é a grande mídia. Qual o jornal de esquerda que existe diário no Brasil? Qual? Não tem!" 

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Taiane Volcan

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